Discussão sobre saúde mental dos atletas ganha espaço no cenário esportivo

Por: Arthur Monnerat Fagundes, Filipe Fonseca e João Vitor Rattes

Quando falamos sobre esporte, é quase implícita a necessidade de que os desportistas estejam sempre saudáveis e em forma, para que possam obter o melhor rendimento possível. Mas discussões acerca da pressão psicológica e da saúde mental dos atletas têm marcado o cenário esportivo.

Uma boa estrutura psicológica é vital na vida de todos e, no caso dos esportes, afeta diretamente no desempenho de um atleta. Segundo o técnico de Beach Soccer da equipe da Aruc aqui no Distrito Federal, Kleiton de Paula, a parte psicológica é tão necessária na hora da prática esportiva quanto a física. “Ela é a responsável para que o atleta siga focado nos seus objetivos, para que ele não venha a cair de rendimento ou até mesmo a desistir do esporte”, diz.

Kleiton afirma que é fundamental cuidar também da estrutura psicológica, principalmente pelo fato que hoje os esportes “serem uma disputa muito mental contra seus adversários, onde quem estiver mais focado, concentrado e alinhado com a parte física acabará tendo o êxito na disputa”

Foto: arquivo pessoal

Já o cinco vezes campeão brasileiro de judô Matheus Schetino Takaki traz uma reflexão sobre a pressão feita pelo público. Isso porque, segundo ele, dentro do esporte existe uma certa expectativa de que a atuação do atleta seja sempre impecável. “O atleta em si já se cobra para buscar evoluir todos os dias e se superar, porém isso vai se intensificando ao conseguir títulos e também começar a aparecer mais e virar uma referência, principalmente nas redes sociais”, comenta.

Takaki destaca que o público, às vezes, acha que os atletas são deuses gregos ou com super poderes. “Isso seria ótimo, mas a verdade é que, assim como qualquer ser humano, temos dias em que não vamos ter uma atuação brilhante, poderemos cometer erros e no esporte em alto nível, há exigência por melhorias constantes sendo que a cada dia que passa o nível dos atletas está mais parelho”, afirma.

Além disso, o judoca fala da importância da ajuda profissional para conseguir enfrentar estas questões: “O que acredito ser a grande causa desses problemas é a liberdade com que as pessoas julgam os atletas, colocando-se no direito de fazer críticas ofensivas. Sem um auxílio profissional, para que o atleta se blinde mentalmente, ele pode acabar perdendo o foco daquilo que realmente importa”

Foto: arquivo pessoal

Segundo Alberto Filgueiras, PHD em Psicologia Esportiva e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a expectativa externa gera a pressão interna no atleta. “Uma das principais queixas de atletas de alto desempenho é exatamente o medo de decepcionar os outros. Muitas vezes são até bem resolvidos com eles mesmos, mas a cobrança externa por uma expectativa criada também externamente é que se torna adoecedor”, afirma.

Segundo o especialista, o problema não é exatamente a pressão, mas a criação de expectativas de outras pessoas sobre os resultados, pessoas dizendo o que ele deve fazer, e o resultado que ele deve obter. Neste sentido, sua própria atuação passa a não fazer sentido para o atleta, pois não é mais sua vontade e objetivo pessoal, mas sim de outras pessoas que querem se realizar às suas custas.

Um exemplo recente é o do jogador de futebol, Neymar Jr. A estrela mundial, em entrevista ao canal “DAZN” em outubro deste ano, afirmou que a Copa do Mundo de 2022 provavelmente será sua última, pois não sabe se terá condições emocionais de continuar atuando pela seleção brasileira. Segundo o especialista, apesar do estranhamento do público acerca da declaração, estes casos não são novidade no meio esportivo. “Os casos são os mesmos. Os atletas só parecem estar cansados de servirem de produto de venda, por isso estão expondo mais as situações, mas sempre foi assim”, comenta Alberto.

Declarações como essa vem se fazendo cada vez mais presentes, como no caso da ginasta estadunidense Simone Biles, que optou por não participar dos jogos olímpicos de Tokyo para cuidar de sua saúde mental, e do nadador Michael Phelps, que durante a quarentena declarou estar passando por um período assustador em relação a sua saúde mental. 

Atualmente no time profissional do Botafogo de Futebol e Regatas, o psicólogo Paulo Ribeiro afirma que é importante que atletas dessa magnitude deem declarações como essas, para que o termo seja normalizado. “O tema da saúde mental no esporte é cada vez mais relevante. Quando uma Simone Biles, um Neymar, ou um Michel Phelps vem a público relatar que sofre algo do gênero, isso amplia o cenário do cuidado que devemos ter com a saúde mental”, afirma.

Ainda segundo Ribeiro, é muito importante que atletas de renome venham a público falar do assunto abertamente. Há algum tempo quando um atleta dizia que estava triste ou com depressão, enxergava-se como fragilidade, e hoje entende-se a importância de cuidarmos de nossa saúde mental”, afirma.

Se a saúde mental dos atletas já era uma questão no meio esportivo, a pandemia o destacou ainda mais. O confinamento, a distância e a falta de treinos, especialmente no caso de esportes coletivos, foram fatores chave para o crescimento do número de casos relacionados a depressão e ansiedade em esportistas.

Um estudo feito em agosto de 2020 pela Universidade de Stanford (Estados Unidos), juntamente com a plataforma esportiva Strava, mostrou em uma pesquisa realizada com mais de 100 atletas profissionais, que um em cada cinco estavam sem motivação para treinar. A pesquisa também apontou que o número de atletas apresentando quadro de depressão aumentou de 3,9% para 22,5%.

Esse trabalho psicológico sempre se fez necessário aos olhos do técnico de Beach Soccer, Kleiton Entretanto, segundo ele, essa responsabilidade dobrou durante a pandemia, levando técnicos a buscarem formas de continuar motivando seus atletas a treinarem, mesmo que em casa. Isso ajudou para que trabalhassem a parte física junto com a mental, auxiliando nas técnicas contra a queda de rendimento.

“Na pandemia, como não podíamos nos juntar para treinar como equipe, tentamos cuidar dessa parte psicológica através da parte do incentivo mesmo, fazendo reuniões e treinos por ligações, para que o atleta não perdesse o foco dele e que não deixasse afetar a sua estrutura como um todo (física e mental). E assim, conseguimos conduzir e incentivar a todos, para que ninguém desistisse e se mantivessem focados para quando voltássemos a treinar e competir juntos.”, conclui.

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