Brasil marca recorde com número de jovens atletas no exterior

São 1200 atletas atuando em 23 campeonatos pelo mundo, segundo o Observatório de Futebol do Centro Internacional de Estudo Esportivos

Por: João Vitor Rattes 

Nas últimas décadas, o futebol europeu, devido ao seu alto poder de compra, passou a ter um domínio mundial, importando os melhores jogadores de diversos continentes, inclusive, comprando atletas que ainda estão em processo de formação. 

A alta competitividade e o poder financeiro tornaram o mercado europeu consequentemente mais atrativo, fazendo com que quase todo jovem jogador sulamericano tenha o sonho de um dia migrar para o velho continente.

Entre os países com maior tradição no futebol, o Brasil sempre foi uma grande escola de atletas, revelando milhares de jogadores talentosos. Com a crescente das vendas, as instituições passaram a se estruturar melhor em diversos âmbitos, dando destaque aos esportivos e ao financeiro.

David Neres e Antony, jogadores brasileiros do clube europeu Ajax (Reprodução: Twitter- Dutch Football)

Em levantamento feito pelo Observatório de Futebol do Centro Internacional de Estudo Esportivos, o CIES, vemos que o Brasil é o país no mundo com o maior número de atletas atuando no exterior. São 1200 atletas atuando em 23 campeonatos pelo mundo.

“Acredito que nosso país sempre foi um dos grandes exportadores mundiais devido a qualidade de nossos jogadores. O que acontece é que atualmente os campeonatos de base tem maior visibilidade e transmissões que podem chegar a todos os cantos do mundo, o que acaba facilitando olheiros e possíveis times compradores a analisarem e investirem nos atletas”, comenta Álvaro Nóbrega, goleiro de 17 anos que é destaque nas categorias de base do Fluminense.

Somada a toda essa situação, em 1998 houve a sanção da Lei nº 9.615, popularmente conhecida como Lei Pelé, que surgiu com o intuito de proteger os atletas profissionais e as categorias de base. Propondo diversas normas voltadas para o vínculo entre os atletas e os clubes, entre as quais cabe ressaltar o fim da Lei do Passe, que até então mantinha os jogadores associados aos clubes mesmo após o fim dos contratos.

Essa regulamentação criou  grande dificuldade para os clubes na de renovar com seus atletas. A situação, segundo diversas pessoas ligadas ao esporte, como Isaías Tinoco, ex-coordenador das categorias de base do Vasco da Gama, e Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, tirou o poder dos clubes e abriu caminho para os empresários e agentes, que desde cedo oferecem seus atletas para o exterior, assim forçando os clubes a venderem seus principais jogadores de forma precoce.

Mudanças no cenário das categorias de base

Com o objetivo voltado para a formação de novos jogadores, as confederações, como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), FPF( Federação Paulista de Futebol) e FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), têm aumentado gradativamente os valores investidos em suas divisões de base por conta dos campeonatos que estão começando mais cedo. O investimento, somados os clubes da Série A, que em 2016 era de R$248 milhões, alcançou em 2019 a marca de um bilhão de reais.

Fernandinho, Ederson e Richarlison, jogadores brasileiros em clubes ingleses (Reprodução: UOL)

Segundo a análise econômico-financeira dos clubes brasileiros de futebol do banco Itaú, todos os principais clubes do país, a exceção do Vasco da Gama, tiveram grande redução nos investimentos das categorias de base no ano de 2020 em razão da pandemia. Entre os clubes que mais investiram no ano de 2019, Flamengo diminuiu 18% do investimento, Grêmio 50% e Internacional quase 75%

Os problemas mundiais sanitários causaram a interrupção e o cancelamento de vários torneios de base, como a Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal torneio nacional de base. A chamada “Copinha” é realizada desde 1969, mas devido a essas questões sanitárias, está suspensa desde janeiro de 2020.

Na análise, percebe-se que Palmeiras, São Paulo e Flamengo foram clubes que, no período de 2016 a 2020, gastaram mais de R$ 100 milhões em suas divisões de base, valor bem mais alto que o investido nas últimas décadas. Segundo Álvaro, esse crescimento gradual no investimento se deve também ao aumento das categorias e dos novos campeonatos nos últimos anos.

“Em sua maioria, os clubes vem investindo sim nas melhorias de suas bases, e muito disso se deve ao fato do aumento do número de campeonatos cada vez mais cedo. A competitividade aumenta a cada ano, e todos os clubes tentam formar novos jogadores, mas sem deixar de vencer na base.”  Comenta o goleiro.

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